UFMG EDUCATIVA: entrevista brinquedos e brincadeiras e formação da criança

FAZ ASSIM! CANTORIAS E BRINCADEIRAS INFANTIS

OUÇA AQUI AS PRIMEIRAS MÚSICAS DE NOSSO CD: produção: Claudio Emanuel, Marilza Máximo e Rogério Correia Direção Musical: Silvia Lima e Christiano Souza Oliveira

Faz assim!

Despedida/ Samba mais eu

territorio do brincar

terça-feira, 13 de abril de 2010

Brincantes do Brasil: veja entrevista com Mauro Brincante, SP

Olá,
Mauro é brincante, mora e trabalha atualmente na cidade de São José do Rio Pardo, interior de São Paulo, possui um blog com o nome Educadores e Brincantes. Trabalha com formação de professores e em projetos voltados diretamente para o brincar com as crianças. Leia aqui um pouco mais de sua trajetória e de suas reflexões sobre sua profissão na entrevista que eles nos concedeu.


Rogério Correia: como voce se envolveu na profissão de brincante? como foi o inicio, como escolheu trabalhar com jogos e brincadeiras?

Mauro:Eu nunca sonhei em ser educador. Meu sonho sempre foi trabalhar com arte e escolhi a música para ser a principal linguagem de trabalho. Comecei a tocar na minha juventude e depois de alguns anos já estava vivendo de música. Só que a vida de músico é 90% noturna e eu tinha muito tempo livre durante o dia. Então resolvi dar aula em uma escola de música, esta experiencia pra mim foi transformadora. Comecei a gostar muito da troca de conhecimento que acontecia nas aulas, em minhas aulas eu nunca dava apenas música. Se estavamos estudando um rítmo como o maracatu eu ensinava as células ritmicas mas também ensinava sobre a cultura em que estava inserido o maracatu.
Gostei tanto desta coisa que comecei a trabalhar de voluntario em projetos sociais para pode trocar mais experiências, até que fui contratado por um projeto.
Comecei meu trabalho dando aulas de músicas para as crianças porém uma coisa me incomodava muito. As crianças com quem eu trabalhava não brincavam. Então comecei a trazer o brincar para as minhas aulas de música em seguida trouxe a construção de brinquedos, quando percebi meu trabalho era mais voltado para o brincar do que para a música. Então resolvi buscar informações sobre o assunto, e fui parar no Instituto Brincante onde conheci um pessoal maravilhoso como Lydia Hortélio, Adelsin. Lucilene, Maria Amélia Pereira (Péo). A partir dai meu trabalho mudou completamente, estes mestres me mostraram que eu tinha que fazer primeiro um resgate e uma pesquisa interna então fui buscar na memória os brinquedos e brincadeiras da minha infância.
Apresentei um projeto de educação por meio do brincar para a coordenação de onde trabalhava (em Carapicuíba/SP) então comecei a desenvolver meu trabalho com crianças de 06 a 10 anos.
Escolhi trabalhar com a confecção de brinquedos, pois, na minha infância minha familia não tinha condições de comprar brinquedos então se eu quisesse brincar tinha que construir meus proprios brinquedos e trouxe esta proposta dentro do meu projeto que foi super bem aceito pelas crianças, os jogos sempre foi um paixão sempre adorei jogos de tabuleiro de todos os tipos e confeccionava muitos em minha infância também. Resumindo fiz o que meus mestres mandaram, busquei em minha infância a pesquisa para o meu trabalho.

Rogério Correia:como voce vê a importância do seu trabalho para as crianças de hoje?

Mauro:O brincar para mim como para todo brincante com quem já troquei idéias e experiência é uma questão de sobrevivência para as crianças, é por meio do brincar que as crianças se relacionam com o outro e com o mundo. Brincar é a linguagem da criança e infelizmente este legado, este dom da vida, esta vivência do brincar verdadeiro está sendo negado às crianças de hoje. Até pouco tempo eu morava em Carapicuíba/SP (periferia de São Paulo) e me mudei para o interior (São José do Rio Pardo/SP) para trabalhar o brincar com crianças e adolescentes de um projeto social. Pensei que iria encontrar um brincar mais preservado aqui, mas, para meu espanto descobri que as crianças daqui também não brincam, usando uma fala do Chico dos Bonecos. - "As crianças não brincam por que não sabem".
Então vejo meu trabalho como questão de sobrevivencia da infância. O trabalho do brincante não é apenas o de "resgatar", relembrar ou ensinar brincadeiras para as crianças, mas, é um trabalho de resgate da Cultura Infância não apenas o brincar. A Cultura da Infância vai além do brincar. O brincar é apenas uma de suas linguagens tem também os brinquedos, as músicas, as histórias, as cantigas, as parlendas, os trava-línguas, os jogos, o "faz de conta", as rodas de versos, etc.
Imagine esta cena: Uma nação "X" invade outra nação "Y", muda a forma de governo e diz que a partir deste momento o povo está proibido de cantar suas músicas tradicionais, contar suas histórias, falar em sua língua natal, ler livros em seu idioma, etc. Passado algum tempo aquele povo vai perdendo sua identidade deixando de ser "Ypsulonianos". Isso é cruel não é?

Então é isso que está acontecendo com a infância hoje, as crianças estão deixando de ser crianças e se tornando outra coisa que você não consegue entender muito bem o que é. As meninas se vestem como mulheres, se pintam como mulheres, usam roupas como mulheres mas ainda são crianças. "Outro dia uma menina de 07 anos não queria pular corda para não desmanchar o penteado que a mãe dela fez para ela ir ao projeto". Semana passada um garoto de 09 anos chegou pra mim e disse que não ia mais brincar porque ele não era mais criança, porque ele já estava namorando e a mãe dele disse que namorar era coisa de adulto e não de criança então ele queria parar de brincar para deixar de ser criança.
Ah, os dois casos eu consegui contornar. A menina eu pedi para ela me ajudar a bater a corda, ai batendo a corda ela ficou com vontade de pular e pediu para eu bater a corda só que de vagazinho para não desmanchar o penteado. - "Sem ela perceber já estava brincando e depois da corda corremos e brincamos de pega-pega, morto vivo e no fim da atividade ela estava toda descabelada e suada como todas as outras crianças. O garoto eu tive que falar que eu era casado que namorava com minha esposa e que ainda brincava, que você não precisa deixar de brincar para ser grande, ele voltou a brincar e é como ele mesmo disse. "Eu quero parar de brincar para deixar de ser criança".

Rogério Correia: como voce vê a importancia deste tema para a formação de professores?

Mauro:Eu trabalho com formação de professores desde 2006. Neste tempo eu pude ver que muitos professores vão aos cursos porque sentem falta do brincar na educação e tentam obter conhecimentos e formas de fazer o brincar. O que eu tento fazer além de dar dicas de como trabalhar o brincar com as crianças é de provocar um olhar diferenciado do brincar e da Cultura da Infância. Sempre digo que não tem receita pronta de como brincar até porque o brincar é espontâneo e se o brincar perder a espontâneidade ele deixa de ser brincadeira e passa a ser outra coisa. Penso que as escolas estão se tornando santuarios de criança, é onde criança vê criança, onde a criança pode se relacionar com o seu semelhante e na sua linguagem, este é o melhor lugar para se trabalhar a Cultura da Infância.

Obrigado.

Abraços Brincantes.
Mauro Nascimento

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